Ritual de Noites de Verão

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O mundo é um caos constante mas ainda tem muita coisa bonita por ai. Quero seguir sentindo o vento no meu rosto e água aos meus pés. / Ter conhecido a indie web me fez voltar a ter uma empolgação genuina com a internet que eu não sentia há anos, desde a época que eu usava o deviantART na adolescência. / Estou empolgade para estudar arte novamente após meses de burnout e isso enche meu coração de alegria. Apesar de todas as complicações, eu sinto que:


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⁺‧₊˚ Sobre não-binariedade ˚₊‧⁺

Aqui vai ser um espaço para explorar um pouco sobre o significado de não-bineriedade pra mim e as minhas experiências sendo uma pessoa nb. Eu resolvi criar esse espaço porque sinto que muitas pessoas próximas tem uma certa dificuldade de entender como funciona a não-binariedade ou o que ela significa pra mim, então cheguei a conclusão que talvez seria bom escrever e ter isso registrado.

Acho que o primeiro ponto é que a não-binariedade é um termo guarda-chuva e pode significar diferentes coisas pra diferentes pessoas. Eu me considero uma pessoa nb gênero-fluido.

Na prática, isso significa que a minha experiência com gênero é fluída dependendo do mês, da semana ou até mesmo do dia. Tem épocas que eu me sinto uma pessoa mais masculina, tem épocas que eu me sinto uma pessoa feminina, tem épocas que eu não me sinto nem uma coisa nem outra. Maior parte do tempo eu me sinto nesse lugar de algo além, só com a certeza constante de que eu definitivamente não sou uma pessoa cis.

Isso tudo é algo muito antigo pra mim, mas na maior parte da minha vida eu achei que não existiria um lugar pra mim, afinal eu claramente não queria fazer uma transição de gênero no sentido de mulher -> homem. Eu nunca me senti como um homem. Mas o que fazer com isso tudo quando você também não se sente exatamente uma mulher?

Eu tive essa realização bizarra um dia em que uma pessoa me falou que pessoas cis não tem questionamentos sobre gênero dessa forma. Isso sinceramente me deixou em choque. Comecei a conversar com amigos e amigas cis e realmente, maior parte deles nunca haviam sequer questionado qualquer coisa a respeito do próprio gênero, mesmo os que entendiam mais profundamente sobre questões lgbtqia+/trans. Isso ficou forte na minha cabeça e aos poucos foi ficando claro pra mim que, bem, talvez eu tivesse que pesquisar um pouco mais sobre isso em mim mesme.

Meu processo foi aos poucos, eu sinto que foi importante me dar o tempo necessário. Devem fazer mais de 6 anos desde que ficou claro pra mim que eu provavelmente era uma pessoa nb, mas levou um tempo mais considerável pra eu sentir que eu conseguiria externalizar isso. Hoje em dia eu tenho tratado isso de uma forma completamente aberta pra todes e tenho lidado com tudo o que vem junto com isso. Tem sido um processo interessante e às vezes desafiador.

Acho que a maior dificuldade das pessoas com isso é conseguir entender esse lugar fora do binário e validar ele como algo legítimo. A realidade da situação é que pessoas nbs não são algo da "atualidade" ou da "nova geração" (até porque eu sou uma pessoa de 30 anos então já cai um pouco por terra a teoria de que só adolescentes ou pessoas de 18~20 anos pensam sobre isso) mas se olharmos com mais cuidado pela história, diversas culturas através dos séculos já falavam sobre a existência de pessoas não-bináries, obviamente com outros nomes em outros contextos, mas ainda assim validando a existência dessas pessoas que não se encaixam no lugar de "homem" ou "mulher". Até mesmo na cultura ocidental dos últimos séculos a existência dessas pessoas pode ser vista de diversas formas, novamente com outros nomes e em contextos específicos, mas ainda assim existentes, sem falar da existência de pessoas intersexo, que tem a sua vivência apagada através da história.

Na minha visão da coisa, pra além do lado prático sobre como isso me afeta e como isso me faz sentir, também tem o lado político. Todos somos políticos, nossos corpos são políticos. E pra mim, não faz sentido eu estar em um lugar binário da existência. As regras sociais em relação à gênero masculino e feminino não ressoam comigo, elas são apenas uma construção social. Levando isso em consideração, eu posso SIM me abster de fazer parte delas. Pra além disso, eu faço questão de fazer um esforço consciente e constante de não estar nesse lugar binário, afinal estar nele, pra mim, seria como viver uma mentira.

Tem também toda a questão de pronomes e "Meu Deus estão matando a língua portuguesa!!!" bem, essa pra mim é a parte mais ridícula da história toda e infelizmente também é a parte que parece mais pegar pras pessoas. Sobre questões de "português errado", acho que qualquer pessoa que já estudou o mínimo sobre línguas sabe que a linguagem é algo que vive em constante mudança, afinal o português brasileiro é muito diferente do português de portugal, o português que falamos hoje é muito diferente do português de séculos atrás. Se você não entende isso, sinto muito dizer mas você provavelmente precisa de algumas aulas de história e de linguagem.

Atualmente (nos últimos dois anos) eu decidi que eu me sinto mais à vontade usando apenas pronomes neutros. Isso é um processo complexo de lidar na prática porque as pessoas têm muita resistência a isso. Eu tenho um nível de paciência razoável pra quem não tem o costume de usar pronomes neutros, mas sinceramente, eu também tô um pouco no modo de "vocês que lutem". Afinal, isso é um processo coletivo e na minha visão, se uma pessoa gosta de mim e quer validar a minha existência no mundo assim como a existência de tantas outras pessoas, o mínimo seria tentar. Erros sempre acontecem e com isso eu não me importo, mas o tentar é o mínimo. Acima de tudo, o uso de linguagem neutra comigo me deixa feliz. Me faz sorrir e me sentir validade, me faz sentir que eu tenho sim um lugar no mundo e que aquela pessoa entende isso e valida isso. Me faz sentir acolhide e bem, me faz sentir que todo esse processo complexo de anos e anos é compreendido em algum nível.

Esse texto já tá bem comprido e provavelmente ainda vai ter algumas mudanças com o tempo, mas pra fechar eu vou citar algumas coisas que tem me causado euforia de gênero e como me reconhecer como uma pessoa não-binárie tem me feito uma pessoa mais feliz:

- Eu sempre tive alguns traços de corpo que poderiam ser considerados "não-femininos" e o processo com a minha descoberta de gênero me fez amar o meu corpo num nível além do que eu achava que fosse possível.

- Brincar com roupas é absurdamente divertido!!! Poder montar looks masculinos nos dias que eu estou me sentindo mais masc ou ultra femininos quando to num modo fem me faz ter uma alegria quase infantil

- Tacar o foda-se pros padrões sociais é muito bommmm recomendo demais, 10/10 façam tbm

- Praticar exercícios físicos constantes e me tornar uma pessoa forte tem me causado uma euforia de gênero maluca e ainda por cima faz bem pra minha saúde ♡

- Ter uma comunidade queer faz muita diferença e eu felizmente tenho uma maravilhosa

- Nem tudo precisa ser levado tão a sério! Eu me divirto MUITO com a minha fluidez de gênero e adoro ser um boy num dia e uma criatura ultrafem no outro.


Espero que a gente consiga seguir construindo uma sociedade onde isso tudo seja mais aceito, enquanto isso a gente segue vivendo e fazendo todo tipo de coisa por ai. Espero que esse texto tenha ressoado positivamente com vc, seja vc uma pessoa queer ou não. Pesquise, se informe, aprenda, apoie sua comunidade, apoie seus amigues, apoie artistas. Experimente e seja feliz.

Té maix ♡

⁺‧₊˚ ཐི⋆☥⋆ཋྀ ˚₊‧⁺